Sobre o impeachment - que, para o bem do país, não deve acontecer
8 de Dezembro de 2015

Semana passada teve final de campeonato de futebol. Mas, do jeito que as coisas andam neste país, não sei se os rojões que ouvi eram em comemoração à vitória do Palmeiras ou à abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff - afinal, parece que o país se dividiu em dois mundos, um contra e outro a favor do governo, e ambos têm como esporte favorito acusar e insultar o outro lado.

Porém, é preciso que coloquemos algumas coisas em pratos limpos. Começando pelo lado do governo. Ficar bradando que impeachment é "golpe" é de uma infantilidade que assusta. O impeachment é uma situação prevista na Constituição e está aí para ser usada desde que haja base para tal. Caso se entenda que a acusação não tem fundamento, o governo é absolvido e segue o jogo. Aliás, parece que as pessoas se esquecem de que é exatamente para isso que serve a Justiça: se alguém acha que seu direito não foi respeitado, é a ela que recorre e a ela compete julgar quem está com a razão.

E o "fora Dilma" é algo que existe desde que Cabral se desentendeu com o GPS e desembarcou na Bahia, há mais de 500 anos. Teve "fora FHC", teve "fora Sarney", teve "fora Dunga", teve "fora (coloque aqui o nome do técnico do seu time)". E o fato de ela ter sido eleita democraticamente, como a própria disse no pronunciamento logo após a medida ser anunciada, não tem importância nenhuma nesse contexto - aliás, o impeachment só existe porque vivemos num regime democrático; fosse uma ditadura, o sujeito era defenestrado na ponta de uma baioneta e fim de papo.

Só que muito mais preocupante que isso é a situação do impeachment em si - e digo isso sem jamais em minha existência ter votado no PT, algo, aliás, mais do que nunca está distante dos meus planos; portanto, não há nada de "pessoal" no que digo. Quem tem mais de 40 anos deve se lembrar em detalhes do que foi o processo de impeachment (e a consequente renúncia) de Fernando Collor de Mello. O país, que já não vinha bem das pernas em termos econômicos, se viu submetido ao malfadado Plano Collor (março de 1990), que previa, entre outras coisas, o confisco das cadernetas de poupança (e de outras aplicações financeiras). Não demorou para o plano fazer água e o processo de impeachment (Collor pediu penico em dezembro de 1992) colocou o país à beira do caos. No caso do "caçador de Marajás" nem tinha o que discutir, o cara tinha que ser apeado do poder mesmo. Mas, mesmo sendo uma medida justa e devida, o prejuízo para o país foi imenso, sobretudo pela desconfiança causada nos investidores internacionais, que pulam fora sem pensar duas vezes - e não pensem que será diferente agora.

No caso presente, além de a base de sustentação para o impeachment ser frágil segundo muitos juristas, certamente o governo vai se pegar em tudo que puder para evitar o afastamento da presidente. E isso significa mais tempo de paralisação de um governo que já tem a apatia e o marasmo como suas características principais. E assim os problemas urgentes que o país enfrenta vão ficar mais um tempo esperando soluções.

Para quem não percebeu, o nó górdio de todo esse imbróglio está no Congresso. O governo vem trabalhando com minoria na Câmera e no Senado, o que, num regime como o nosso, em que tudo depende do Congresso, exigiria um grande poder de negociação por parte do Palácio do Planalto. Só que não é isso que vemos, pelo contrário. A articulação política de Dilma e sua turma é praticamente igual a zero e a atual situação só torna as coisas mais complicadas. Na verdade, durante as eleições os principais partidos só deram atenção às candidaturas a presidente, deixando para segundo plano a composição da Câmara e do Senado - e o resultado está aí: este é o Congresso mais conservador (retrógrado?) desde o fim do regime militar. E pior: com um chantagista da pior categoria à frente da Câmara.

Agora o que nos resta é aguardar. Por quanto tempo? Difícil dizer. Caso o governo consiga impedir juridicamente a abertura do processo de impeachment, talvez seja um período curto e todos só saiam chamuscados desse processo. Caso isso não ocorra, podem ter certeza: em 2016 vamos ter saudade do ano perdido que foi 2015...

E nesse rolo todo, o interessante é notar que, caso o processo siga adiante, é preciso que dois terços da Câmara aprovem o pedido. Ou seja, é preciso que um determinado número de deputados seja contra para o pedido ser negado. E esse número é... 171.

3 comentários:

  1. Acho que o mais coerente seria o famoso "pede pra sair!". ja que o que se Vê é um pais indo para a beira do precipício. A "esquerda" (e bora entre aspas nisso) fez tanta ca.... que até a população acha que a direita extrema, incluisive o regime militar é a saída.... lembram de um movimento na Alemanha nodistante século passado?!?! Após um período de penúria?! Como o PT se agarrou no poder e faz qualquer coisa para permanecer nele, até se vender para o pessoal que era da ARENA... Não vão sair por bem... então, o inpeachment, se for juridicamente plausível... é uma bela de uma chance para sacudir o mercado. "Democracia não é o imperio do voto, mas da lei." E inclusive desafio... e se as eleições fossem hoje? "Kill the King!"

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  2. Ótima reflexão, Tony! Realmente precisamos de uma reeducação política- e que se inicie nas crianças, nas escolas, nos lares. Não é mais cabível vivermos nesse modelo engessado e ultrapassado, corrupto e conivente com o que há de mais imoral no fazer político atual.
    A conta "cor, partido e número" não fecha e nem nunca fechará! A conta empresariado bancando eleições jamais fechar! O desmantelamento e o enquadramento da educação focado no comércio e na "produtividade" está formando jovens sem crítica e discernimento da realidade e suas múltiplas possibilidades. A banalidade como é tratada a política tem tornado as pessoas indiferentes e insensíveis com a vida e abrindo portas e janelas para a corrupção do ser humano como um todo. A mediocridade como está sendo tratada a vida no planeta tem possibilitado que todo esse arranjo insustentável político dê brechas para essa realidade que vivemos: somos os únicos seres vivos que estão destruindo seu próprio habitat natural. E não, não temos outro planeta para viver! Precisamos voltar nossos olhares e ações para uma educação integral, onde a vida, em todos os seus planos possíveis de convivência e sociabilidade possam caminhar de forma justa, generosa, não violenta e sustentável. A política tem papel importantíssimo nesse processo e não pode mais ficar nas mãos de pessoas que ainda vivem no século passado!

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  3. Tony

    Você sabe minha opinião, não adianta trocar o governo, essa política econômica que começou no governo FHC e foi mantida covardemente pelo PT, não tem solução a curto prazo.
    Ninguém investe um dólar no Brasil por um simples motivo não compensa, a multidão de semi-escravos que foram elevados a categoria de pobres não querem mais comprar geladeira, fogão, máquina de lavar, televisão e carro popular. Querem agora comprar celular, notebook, tênis importado, e demais trecos feitos na China, na Coreia, Hong Kong e tal.
    A alegria de se controlar a inflação com um Real supervalorizado acabou, essa ideia idiota que nos arruinou, nós não somos competitivos em nada, só em corrupção, nossos políticos são tão corruptos e subdesenvolvidos quanto os empresários que os financiam e como o nosso povo também é, um país rico como nosso onde a melhor opção de emprego é passar em um concurso público, tem alguma coisa de errado em suas raízes, a historiador, jornalista e professor Sergio Buarque já escreveu sobre isso.
    Em resumo o Delfim Neto tinha razão, é melhor o atraso tecnológico da Reserva de Mercado, que a modernidade da Globalização, porque nós somos incompetentes, caso contrário não seriam necessárias duas ditaduras e uma oligarquia que teima em não morrer.

    Abraços

    PFG

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