Já cobri shows dos Rolling Stones duas
vezes, em 1995 e 1998. Pus o título de "A Oitava Maravilha do Mundo"
na primeira matéria e "A Oitava Maravilha do Mundo II" na outra.
Mistura de provocação com altas doses de admiração - acho que todos saibam qual
minha banda favorita... E como esse terceiro encontro com Jagger, Richards,
Watts e Wood aconteceu no Rio de Janeiro, a Cidade Maravilhosa (no dia 20 de
fevereiro), daria até para apelar mais. Resisto bravamente.
Aqui não vou me prender tanto às
questões técnicas ou musicais que abordamos numa cobertura de um show. Isso
fica para a resenha das apresentações que sai em breve na revista Roadie Crew.
Acontece que um espetáculo dessa monta envolve muito mais do que uma dúzia de
músicos (sim, os Stones trazem tecladistas, metais e backing vocals para
completar a banda) mostrando suas habilidades em cima de um palco. Há todo um
clima que envolve o antes, o durante e o depois do show que acaba sendo tão
interessante quanto a apresentação em si - na verdade, em alguns casos é o que
salva o show. Não foi o caso. Após um início meio claudicante no Estádio Nacional
em Santiago, no Chile (aconteceram alguns erros primários por lá), os Stones
chegaram ao Brasil na ponta dos cascos, como diria vovó. E ao show
irrepreensível se somaram detalhes que vale a pena contar.
É sempre interessante a chegada a um
evento como esse. Quanto mais você se aproxima do lugar, mais vai percebendo o
clima do que vai vir. Já no metrô abarrotado (um sistema meio confuso fazia
você descer de um trem, caminhar um pouco e pegar outro trem que vinha do mesmo
lugar em que você pegou o primeiro...) dava pra sacar a quantidade de línguas
de fora das mais variadas versões estampadas nas camisetas do povo. Um gringo
usando a camiseta do show de Montevidéu quatro dias antes e outro fazendo
inveja com a de Kansas City, em junho passado (cada show recebe uma camiseta
própria) já dava a pista de que haveria mais fãs do que aventureiros no
Maracanã.
Na tranquila chegada ao estádio, o
mico do ano foi aparecer como "papagaio de pirata" em uma reportagem
da Globo - e aí você descobre que o pessoal desce a lenha na emissora, mas tem gente
pra caramba que assiste ao tal Jornal Nacional pela quantidade de
mensagens/piadinhas/comentários a respeito no Facebook - tudo bem, como diria
Vicente Matheus, quem está na chuva é pra se queimar...
Lá dentro, o Maracanã é um estádio que
impressiona. Já havia estado lá após a reconstrução (aquilo não foi apenas uma
reforma), mas dessa vez, olhando a obra de dentro do gramado, dá pra perceber a
grandiosidade do lugar.
Antes de os Stones pisarem no palco, caiu
uma chuva daquelas de filme de pirata - o vento fazia a água voar quase na
horizontal! Foi quando o Ultraje a Rigor subiu no palco. Podia ter sido um show
bacana - afinal, o Ultraje é uma banda legal e seu primeiro disco, "Nós
Vamos Invadir Sua Praia", é um clássico do rock nacional. Acontece que o
líder da banda, Roger Moreira, andou assumindo uma postura conservadora na
verdadeira briga de torcida organizada em que se tornou a política brasileira
nos últimos tempos e, pior de tudo, resolveu bater boca com quem não concorda
com ele. Pintou uma vaia e veio a discussão. E aí Roger errou. Quem está no
palco não discute com quem está na plateia. Isso é de lei. Deixa quem quiser
vaiar que vaie, quem quiser xingar que xingue. O que importa é não perder a
pose. Só que Roger não se controla e ainda apela. "Não consigo ouvir vocês
daqui de cima, perto dos Rolling Stones", teve a coragem de dizer. Minha
filha Karina Mochetti (também autora das fotos desta página) zerou o assunto no
Facebook: "Quinta série mandou beijos pro Roger." Uma pena.
Chuva enfim dando um tempo (lembrei de
27 de janeiro de 1995, primeira apresentação dos Stones no Brasil, no estádio
do Pacaembu, em que um ensaio geral do dilúvio durou o show inteiro) e o
estádio lotando rapidamente. Dava pra sacar que não era um pessoal que estava
lá no embalo, mas gente que conhecia e curtia Stones. E o mais interessante de
tudo é que a banda provou que conseguiu conquistar cinco gerações, já que havia
desde crianças até gente da terceira idade. Mas um fato é incontestável: a
imensa maioria do público era mais nova do que o maior hit da banda,
"Satisfaction", que é de 1965. Ou seja, para quem ainda tinha dúvida,
os Rolling Stones provaram mais uma vez ser uma banda que resiste ao teste do
tempo.
Vinte minutos de atraso tentando
arrumar um telão que insistia em mostrar apenas metade da imagem e lá surgiram
eles. "Start Me Up" (maior sucesso deles depois de
"Satisfaction") com seu riff irresistível botou a galera pra cantar,
dançar, berrar. O som era absolutamente impecável (apesar de alguns picos de
volume da guitarra de Keith Richards) e a banda era um misto de energia e
felicidade.
Muito já se falou a respeito, mas é impossível deixar passar: o que esses caras conseguem fazer com mais de 70 anos as pessoas comuns não fazem aos 30. E Jagger, definitivamente, é de outro planeta. Além de estar no auge da forma como vocalista, consegue andar, correr, dançar, rebolar e ainda falar aquele "português de teleprompter" que deixa a plateia maluca - ou seja, o pacote completo. Note, ele faz 73 em julho próximo.
Muito já se falou a respeito, mas é impossível deixar passar: o que esses caras conseguem fazer com mais de 70 anos as pessoas comuns não fazem aos 30. E Jagger, definitivamente, é de outro planeta. Além de estar no auge da forma como vocalista, consegue andar, correr, dançar, rebolar e ainda falar aquele "português de teleprompter" que deixa a plateia maluca - ou seja, o pacote completo. Note, ele faz 73 em julho próximo.
O público, em êxtase, conhecia muito
bem a banda.
Todas as músicas tiveram ao menos seus refrãos cantados pela galera, incluindo temas menos conhecidos, como "Out Of Control". E o repertório era um desfile de hits: entre outros, estavam lá "Honky Tonk Women", "Miss You", "Brown Sugar", "Gimme Shelter", "Angie", "You Can't Always Get What You Want" e "Sympathy For The Devil". Aliás, nessa música impressionaram não só o palco tomado de vermelho como as imagens de um pentagrama e de uma cabeça de bode sendo projetadas atrás da banda.
Todas as músicas tiveram ao menos seus refrãos cantados pela galera, incluindo temas menos conhecidos, como "Out Of Control". E o repertório era um desfile de hits: entre outros, estavam lá "Honky Tonk Women", "Miss You", "Brown Sugar", "Gimme Shelter", "Angie", "You Can't Always Get What You Want" e "Sympathy For The Devil". Aliás, nessa música impressionaram não só o palco tomado de vermelho como as imagens de um pentagrama e de uma cabeça de bode sendo projetadas atrás da banda.
Na hora de "Gimme Shelter",
a nova backing vocal Sasha Allen mostrou que não é a eterna Lisa Fischer, mas
deu conta do recado colocando uma interpretação própria à música.
E se Karl Denson também não é Bob Keys (saxofonista que acompanhou a banda por mais de 40 anos e que faleceu no final de 2014), não fez feio no solo de "Brown Sugar".
E se Karl Denson também não é Bob Keys (saxofonista que acompanhou a banda por mais de 40 anos e que faleceu no final de 2014), não fez feio no solo de "Brown Sugar".
O final com "Satisfaction",
a banda na frente do palco agradecendo e sendo ovacionada por mais de 65 mil
pessoas e "bora pra casa" com um sorrisão cicatrizado na cara. Nem o
motorista de táxi furão que a gente tinha contratado e simplesmente não
apareceu serviu pra estragar a noite. Afinal, tínhamos acabado de ver, mais uma
vez, a oitava maravilha do mundo (é, não resisti...).
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