Numa definição bem rasteira, a função
de um jornalista seria descrever situações em palavras - e, quando for o caso,
interpretar essas situações. Um pouco de talento, um bocado de técnica e um
punhado de experiência acabam tornando essa tarefa bem mais fácil. Só que às
vezes a realidade se encarrega de nos deixar sem palavras. Foi o caso do
estupro de que teria sido vítima uma garota de 16 anos com a participação de
nada menos que 33 criminosos. Como se não pudesse ficar pior, a barbárie veio à
tona por conta de um vídeo (que tive a satisfação de não assistir em função da
repugnância das imagens, de acordo com relatos de quem teve o desprazer de
vê-las) em que, entre outras coisas, um dos envolvidos debocha da situação.
Estupro é uma coisa inaceitável para
qualquer pessoa normal. É complicado até entender como alguém tenha prazer num
ato sexual em que a outra pessoa envolvida está sendo agredida e obrigada
àquilo.
Apesar de tudo, no caso em questão imagina-se
que, em função da repercussão do negócio, os acusados sejam rapidamente
localizados e devidamente punidos, ao contrário do que acontece com os inúmeros
casos de estupro que ocorrem diariamente no país - só no Rio de Janeiro, foram
quase 1.500 casos apenas nos primeiros quatro meses do ano. Algo em torno de
uma agressão a cada duas horas. Mesmo que fosse uma por ano seria algo
inaceitável, mas uma a cada duas horas apenas em um estado da federação e
levando-se em conta que são contabilizados apenas os eventos denunciados (muitas
mulheres ainda deixam passar batido por vergonha ou por medo de que duvidem
delas) é algo que nos leva a concluir que a civilização está em processo
falimentar.
Mas, quando você pensa que chegou no
fundo do poço, aparece um sujeito com uma pá e uma disposição invejável de
continuar o trabalho. Não bastasse tudo isso que aconteceu, ainda teve gente
com a desfaçatez de querer justificar o estupro. Nunca a expressão
"justificar o injustificável" fez tanto sentido.
"Ela tem 16 anos e já tem um
filho de 3." Pra quem diz isso, quatro letras: e daí? Desde quando o fato
de ela ter engravidado aos 13 anos justifica uma horda de bárbaros dopá-la e
violentá-la? O argumento é tão raso que nem merece resposta.
"Ela tinha saído para
farrear". Sim, ao que tudo indica ela tinha saído para fazer uma farra. Não
para ser agredida. Dá pra sacar a diferença ou precisa desenhar?
"Ela estava de roupa curta."
Como disse o grande chapa Fabiano Negri, nem que ela estivesse nua isso se
justificaria.
Resumindo: não, ela não mereceu o que
fizeram com ela. Tem que pegar quem fez isso e punir exemplarmente. E tem que
pegar quem acha essa barbaridade algo justificável e abrir a cabeça do sujeito
a machado - não por violência, mas pra descobrir o que tem dentro.
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